quinta-feira, 28 de novembro de 2013

OLIMPÍADA DA LÍNGUA PORTUGUESA






Nos dias 25 a 27 de novembro tive o privilégio de participar do curso sobre Gêneros Textuais na perspectiva da Olimpíada da Língua Portuguesa ( OLP), na Praia dos Ingleses em Florianópolis, representando na ocasião a 29ª Gerência de Palmitos e a Secretaria Municipal de Educação.
A OLP iniciou em 2002 e preza nos anos pares à produção dos alunos e nos anos ímpares à formação docente. Éramos 36 participantes, cada qual representando uma gerência regional com o objetivo final de divulgar, apresentar a proposta da olimpíada às escolas e promover formação dos docentes, sendo que, gêneros textuais diversos são trabalhados: 5º ano- poesias / 6º, 7º, 8º anos - Memórias Literárias / 9º ano, 1ª série EM - Crônicas / 2ª e 3ª série EM - Artigo de Opinião.
O curso foi ministrado pela Dra. Prof. Maria Izabel Hentz, sob coordenação da prof. Luzia Leite, que conduziram os trabalhos de forma espetacular, com conhecimento, discernimento e extrema clareza.
Além do curso, firma-se contato com várias pessoas, experiências diversas e cria-se vínculos. Obrigada pela parceria: Lisiane, Fabiana, Nelci, Madalena, Cleusa, Roberta, Maria Yolanda, Elisete, Naudir... Toda vez que eu falar da OLP vocês estarão presentes: cantando na chuva comigo, declamando Clarice Lispector. " Semeando Letras e Colhendo Flores".

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

OUSADIA NA TERCEIRA IDADE

Chegar à terceira idade com vigor, vitalidade e, principalmente, bom humor, deve ser uma bênção. E deve ser melhor ainda quando se recria , a cada dia, a própria vida: desafios, novidades,ousar fazer o que nunca se fez. E mais: compartilhar um pouco de sua história através de um livro, é estonteante. É isso que fez Rosa Frohlich Dupont: MINHA VIDA: DA INFÂNCIA À TERCEIRA IDADE. Ainda não tive o prazer de lê-lo completamente, pois está nas mãos do meu pai, que é primo da autora e é uma das personagens citadas no livro, bem como, meus avôs paternos.( Para quem não sabe é mãe da prof. Clarisse e da Prof. Maria ).
Esses idosos estão dando show, nos colocando "no chinelo", como se diz. Não invejo a disposição que eles têm, pois este é um sentimento que não me permito sentir, mas confesso que tenho um pouco de medo de envelhecer e ter dificuldades de conviver comigo mesma. Como tudo é possível, estou botando fé na minha caminhada para envelhecer com sabedoria.
Bem, à dona Rosa, meus parabéns. Que esta atitude sirva de exemplo para mais pessoas, inclusive, a ela mesma, para repetir a dose com novas e emocionantes histórias.


sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Eu sei, mas não devia (Marina Colasanti)



Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.