SER MÚLTIPLO FAZENDO UMA COISA DE CADA VEZ!
Quem de nós já não iniciou uma atividade
e foi interrompido porque o celular tocou, ou porque alguém bateu à porta,
chamou, ou quis ouvir a notícia no rádio, ou um carro que passou na rua
desconcentrou, ou um filho veio chamar para ver algo e assim por diante. Lembro
que quando eu era adolescente conseguia ler e compreender o que estava lendo,
vendo televisão ou ouvindo música. Mas confesso: isso não dava muito certo
porque havia a dispersão, querendo ou não.
E hoje, como fica isso neste mundo
da internet, neste mundo globalizado? Fazemos trabalhos, pesquisamos, mas
estamos conferindo os e-mails, aproveitamos para dar uma espiada no faceboock e
já decidimos postar algo, compartilhar, curtir..., atendemos ‘o celular. Opa!
Vamos voltar ao foco! Criou-se o mito nesta era informatizada de um
profissional, de um sujeito multifacetado. Bem, a ciência já sabia, e ao poucos
nos damos conta de que o melhor jeito de fazer as coisas é fazer uma de cada
vez.
“Estamos
deixando a era da distração, em que prestamos um pouco de atenção a várias
coisas ao mesmo tempo, para entrar na era do foco.” Isso não sou eu que
estou falando: é o resultado de uma pesquisa feita na Universidade de
Vanderbilt, nos EUA. Um dos professores afirma que tudo que é escasso se torna valioso e que
a nova escassez é ter tempo para pensar
e se concentrar. E por quê? Porque vivemos uma aceleração do tempo: tudo tem
que ser rápido, imediato. Mas não se pode ter inovação sem períodos de
reflexão e até de preguiça. Temos que aprender a comandar o ritmo de nossas
vidas. Difícil? Demais. No meu caso é tudo pra ontem e sofro muito por isso.
Uma das minhas grandes lutas diárias é tentar fazer mais, mas com qualidade
maior. Hoje faço muito, mas com qualidade inferior. Eu estou fazendo uma severa
autoanálise: até que ponto tudo isso
vale a pena?
Já curei algumas úlceras, já tenho
vários cabelos brancos, ainda fumo além da conta, ainda quero resolver várias
coisas ao mesmo tempo (e muitas vezes não é nem incumbência minha). Acho que eu
ainda penso que posso salvar o mundo. No fundo sei que não posso! Isso já
deveria ter ficado para trás. Sei que não podemos nos desligar de tudo, mas
temos que ter momentos de tranqüilidade. Volto à antiga tecla: se não
aprendemos com amor, aprendemos com a dor.
Estou aprendendo que em vez de
controlar meu tempo, o grande segredo é controlar minha atenção. Em vez de
seguir uma lista de obrigações, às vezes bem chatas, devo priorizar o que é
importante emocionalmente. Acho que isso me fará trabalhar com mais motivação.
Tenho que aprender a listar o que é importante e desempenhar cada função com
atenção, com foco até o fim. Sabe o que estou percebendo no fim das contas? Que
corro muito, que faço muito, mas tenho a sensação de que pouco fiz. E sabem por
quê? Não há foco, seleção do que realmente é importante para aquele momento. E
há outra coisa: às vezes é bem na hora da desaceleração, do relaxamento que
aparece a solução para aquele problema que parecia perdido. Damos espaço para a
vida fluir. Percebemos melhor o que e
quem nos cerca.
O escritor Leo Babauta diz que existem Rituais de Foco para nos manter na linha
ao longo do dia: começar bem o dia, listar as tarefas, limpar o ambiente,
retomar o foco várias vezes ao dia, desconectar-se e, finalmente, terminar o
dia refletindo sobre o que foi feito e descansando a mente para o próximo dia.
O mesmo autor coloca que quando tentamos fazer várias coisas ao mesmo tempo só
nos tornamos mais lentos e aumentamos a chance de erros. Mesmo que nosso
cérebro possa armazenar milhares de informações, a mente humana é programada
para processar uma informação de cada vez.
Pois
é, foi só deixar de lado algumas coisas
e meu texto ficou pronto em 10 minutos. Acho que quando paramos de reclamar que
temos mil problemas e resolvemos um, sobram somente 999, e até, quem sabe, sobra
um tempinho para espichar as pernas, tomar aquele chimarrão e curtir a família
que, ao final de tudo, é o me mantém “firme e forte!”.
DICA
DA SEMANA
“
Nada mais havendo a tratar, renovamos nossos protestos da mais alta estima e
distinta consideração..”
Aí faltou uma coisa muito importante
para completar a ladainha: Assim seja
ou Amém. Se nada mais há para tratar
é só encerrar a carta, sem conversa fiada. Se
temos tanta estima por alguém, bem que ele merece uma despedida mais
original, criada por nós. Além disso, misturar protestos com tanta consideração
chega a soar muito falso e depois de tantas ofensas é difícil acreditar que o
remetente perceba as boas intenções do mensageiro.