quinta-feira, 22 de maio de 2014

“NADA É IMPOSSÍVEL DE MUDAR!"



Eugen Berthold Friedrich Brecht foi um poeta, romancista, dramaturgo e teórico renovador  da cidade de Augsburg, Alemanha. Alguns devem pensar que sou ousada em querer falar de um escritor desta magnitude, que tinha uma visão de  humanidade e de sociedade muito além do seu tempo. Pois eu mesma considero uma ousadia e não me atrevo a analisar sua obra, nem falar de suas convicções, mas não posso deixar de mencionar e comentar alguns de seus escritos que cada vez são mais atuais. Brecht é uma época. Uma época tumultuosa de rebeldia e de protesto. Refletem-se, em suas obras, os problemas fundamentais do mundo atual: a luta pela emancipação social da humanidade.  Brecht vai além: colocou sua obra literária a serviço da política. E eu diria mais, e aí sim eu ouso: a serviço de uma compreensão melhor de cada um de nós, espiritual e holisticamente falando.

Num de seus poemas ele escreve: "Primeiro levaram os negros, mas não me importei com isso: Eu não era negro! Em seguida levaram alguns operários, mas não me importei com isso: Eu também não era operário. Depois prenderam os miseráveis, mas não me importei com isso, porque eu não era miserável. Agora estão me levando, mas já é tarde: Como eu não me importei com ninguém, ninguém se importa comigo." Pois é bem assim: enquanto não acontece com a gente mesmo, enquanto não sentimos nós mesmos na pele, muitas vezes não nos importamos e deixamos tudo correr por conta própria. E ao final de tudo, quando não se importarem mais com a gente, ainda nos daremos ao direito de reclamar. Sei que não podemos salvar o mundo, mas podemos contribuir e torná-lo um lugar melhor de se viver. Somos uma consciência coletiva que exerce um poder fora do comum em tudo que acontece a nossa volta e, principalmente, pelo que acontece dentro de nós mesmos.

“Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem.” Esta é uma das frases deste escritor que mais me fez pensar até hoje. Sempre tendemos a analisar o fato por si só. Esquecemos do principal: o que fez este fato ser fato. Toda conseqüência teve uma causa. Procuramos soluções para tantas coisas e muitas vezes nem conhecemos bem o problema. Corremos às cegas e nos desgastamos à toa.

Eu já falei uma vez que sempre compreendi o significado da palavra política em sua essência: maneira de agir com habilidade, quer seja, no grupo familiar, no grupo de amigos, no trabalho, quer seja, em sua forma mais ampla de governar um país, um estado, uma cidade. Respiramos política diariamente em todas as suas instâncias, queiramos ou não. É o funcionamento da vida organizada. Neste contexto Brecht escreveu dizendo que o pior analfabeto é o político, porque ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. E o escritor, de forma agressiva até, sentencia dizendo que “o analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia política.” E o mais chocante em suas palavras é quando finaliza enfaticamente afirmando que “não sabe este imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado e o pior de todos os bandidos: o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio...” Não há como não considerá-lo corajoso ao fazer tais afirmações. E eu completaria dizendo ainda que desses ignorantes, burros, nascem outros ignorantes, os que ignoram! Estes últimos ficam ainda mais alheios a tudo, pois lhes é negado o direito de “acordar” e viver de forma mais digna. Estes são os que “se deixam pensar pelos outros.”
Crítico em tudo que escrevia ainda advertiu o leitor a desconfiar do mais trivial e examinar, sobretudo, o que é habitual. Nos pede que não aceitemos o que é de hábito, a coisa natural, pois numa confusão, numa arbitrariedade, numa desordem, numa desumanizada humanidade, nada deverá parecer natural. E completa: “nada deverá parecer impossível de mudar.” Concordo plenamente, pois somos homens, seres muito úteis...e temos um grande defeito: sabemos pensar!

( Maria Célia/2014)


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