“É necessário abrir os olhos e perceber que as
coisas boas estão dentro de nós, onde os sentimentos não precisam de motivos, nem
os desejos de razão. O importante é aproveitar o momento e aprender sua
duração, pois a vida está nos olhos de quem saber ver.”
Sábias palavras do grande escritor colombiano
Gabriel Garcia Márquez que desencarnou neste último dia 17. Considerado um dos
autores mais importantes do século XX, foi também jornalista, editor, ativista
e político. Foi um dos escritores mais admirados e traduzidos no mundo, com
mais de 40 milhões de livros vendidos em 36 idiomas.
Foi laureado com o Nobel de Literatura em 1982 pelo
conjunto de sua obra, que entre outros livros incluiu o aclamado Cem Anos de Solidão. Este romance em
referência nos traz personagens que padecem de solidão, não só pelo isolamento,
mas, sobretudo, pelo próprio estado de espírito que caracteriza o passar do
tempo para a família protagonista, Buendía.
No início do livro o autor traça a genealogia
da família, que sugiro aos leitores que seja observada e retomada durante a
leitura para melhor compreensão. A solidão é o estado de espírito que passa de
geração para geração, como um rio que segue seu curso até o rumo final. No caso
da família Buendía que se envolve em revoluções, inventos, amores na casa
grande e na senzala, corrupções, a identidade da América Latina vai sendo
delineada, tendo como instrumento narrativo o realismo mágico. É exatamente
nesse ponto que se destaca a prodigiosa imaginação do autor que sabe como
ninguém construir a realidade por meio do que cremos ser verdade. Por trás dos
malabaristas de seis braços, do ancião de quase duzentos anos que havia vencido
o duelo de repentes, do padre que levita 12 centímetros do chão, da mulher que
come areia, dos filhos que nascem com rabo de porco, tapetes voadores, uma
população inteira que perde a memória, almas penadas, o homem que arrasta em
torno de si um cortejo de borboletas amarelas, existe a história contada da
solidão de um continente que se construiu de uma maneira própria.
Poderemos experimentar, tanto nesses
símbolos, quanto nos mitos e rituais, a expressão de uma realidade última. Jung
cita em sua obra que “o homem pode viver
as coisas mais surpreendentes, se elas tiverem sentido para ele. Mas a
dificuldade é criar esse sentido”. Nós somos seres de uma imaginação
inexplicável, tão inexplicável que as coisas acontecem e achamos que é obra do
acaso: mas tudo, exatamente tudo, aconteceu antes num cantinho da nossa cabeça.
A materialização vem depois da imaginação.
A rede Globo de televisão relançou no ano de 2013 a novela Saramandaia:
simplesmente fantástica! Quem assistiu, ao ler o livro de Márquez, irá
encontrar semelhanças ao analisar a questão do preconceito e das diferenças
individuais.
A trajetória de uma família descrita em
cem anos, uma geração vivida em cem anos, uma história que pode ser de qualquer
família: cem anos de vida, de peculiaridades, de excentrismos, de sonhos, de
lutas, de amor e de solidão: isto é o
que o leitor vai viver ao adentrar neste mundo mágico de Márquez. Uma leitura
indispensável.
Acredito
que seja essa a nossa necessidade: encontrar um bom mito que dê significado
para a nossa existência, já que viemos ao mundo para fazer o nosso caminho
solitário.
Um
escritor reconhecido por todos: Gabriel García Márquez será sempre inovador. E eterno.
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