Eugen Berthold Friedrich Brecht foi um poeta,
romancista, dramaturgo e teórico renovador da cidade de Augsburg, Alemanha. Alguns devem
pensar que sou ousada em querer falar de um escritor desta magnitude, que tinha
uma visão de humanidade e de sociedade
muito além do seu tempo. Pois eu mesma considero uma ousadia e não me atrevo a
analisar sua obra, nem falar de suas convicções, mas não posso deixar de
mencionar e comentar alguns de seus escritos que cada vez são mais atuais. Brecht é uma época. Uma época
tumultuosa de rebeldia e de protesto. Refletem-se, em suas obras, os problemas
fundamentais do mundo atual: a luta pela emancipação social da humanidade. Brecht vai além:
colocou sua obra literária a serviço da política. E eu diria mais, e aí sim eu
ouso: a serviço de uma compreensão melhor de cada um de nós, espiritual e
holisticamente falando.
Num de seus
poemas ele escreve: "Primeiro
levaram os negros, mas não me importei com isso: Eu não era negro! Em seguida
levaram alguns operários, mas não me importei com isso: Eu também não era
operário. Depois prenderam os miseráveis, mas não me importei com isso, porque
eu não era miserável. Agora estão me levando, mas já é tarde: Como eu não me
importei com ninguém, ninguém se importa comigo." Pois é bem
assim: enquanto não acontece com a gente mesmo, enquanto não sentimos nós
mesmos na pele, muitas vezes não nos importamos e deixamos tudo correr por
conta própria. E ao final de tudo, quando não se importarem mais com a gente,
ainda nos daremos ao direito de reclamar. Sei que não podemos salvar o mundo,
mas podemos contribuir e torná-lo um lugar melhor de se viver. Somos uma
consciência coletiva que exerce um poder fora do comum em tudo que acontece a
nossa volta e, principalmente, pelo que acontece dentro de nós mesmos.
“Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama
violentas às margens que o comprimem.” Esta é uma das
frases deste escritor que mais me fez pensar até hoje. Sempre tendemos a
analisar o fato por si só. Esquecemos do principal: o que fez este fato ser
fato. Toda conseqüência teve uma causa. Procuramos soluções para tantas coisas
e muitas vezes nem conhecemos bem o problema. Corremos às cegas e nos
desgastamos à toa.
Eu já falei uma vez
que sempre compreendi o significado da palavra política em sua essência:
maneira de agir com habilidade, quer seja, no grupo familiar, no grupo de
amigos, no trabalho, quer seja, em sua forma mais ampla de governar um país, um
estado, uma cidade. Respiramos política diariamente em todas as suas
instâncias, queiramos ou não. É o funcionamento da vida organizada. Neste
contexto Brecht escreveu dizendo que o pior analfabeto é o político, porque ele
não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos. Ele não sabe que o custo
de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do
remédio dependem das decisões políticas. E o escritor, de forma agressiva até,
sentencia dizendo que “o analfabeto
político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia política.”
E o mais chocante em suas palavras é quando finaliza enfaticamente afirmando
que “não sabe este imbecil que da sua
ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado e o pior de todos os
bandidos: o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio...” Não há como
não considerá-lo corajoso ao fazer tais afirmações. E eu completaria dizendo
ainda que desses ignorantes, burros, nascem outros ignorantes, os que ignoram!
Estes últimos ficam ainda mais alheios a tudo, pois lhes é negado o direito de
“acordar” e viver de forma mais digna. Estes são os que “se deixam pensar pelos
outros.”
Crítico em tudo que
escrevia ainda advertiu o leitor a desconfiar do mais trivial e examinar,
sobretudo, o que é habitual. Nos pede que não aceitemos o que é de hábito, a
coisa natural, pois numa confusão, numa arbitrariedade, numa desordem, numa
desumanizada humanidade, nada deverá parecer natural. E completa: “nada deverá parecer impossível de mudar.”
Concordo plenamente, pois somos homens,
seres muito úteis...e temos um grande defeito: sabemos pensar!
( Maria Célia/2014)
Nenhum comentário:
Postar um comentário